A agenda da Hipercolesterolemia Familiar

A agenda da Hipercolesterolemia Familiar

Este é um artigo de Samuel S. Gidding e cols. em nome do Comitê de Aterosclerose, Hipertensão e Obesidade nos Jovens do Conselho de Doenças Cardiovasculares dos Jovens, do Conselho de Enfermagem Cardiovascular e de Acidentes Vasculares Cerebrais, do Conselho de Genômica Funcional e de Biologia Translacional e do Conselho de Estilo de Vida e de Saúde Cardiometabólica da American Heart Association, baixado do site http://circ.ahajournals.org/ em FMRP BRAZ 35042 MEDIC RIB 80, 29 de outubro, 2015.

Apanhado geral

Recapitulando, sabemos que a HF é uma doença genética (hereditária) autossômica dominante*, que está presente em todos os grupos raciais e étnicos e que foi há muito tempo reconhecida como a causa de doença aterosclerótica prematura das artérias coronárias.

*Doença autossômica dominante ocorre quando há necessidade de somente uma cópia do gene, que sofreu um processo de mutação, para que a doença se manifeste. Normalmente, um dos dois progenitores de uma pessoa afetada manifesta a doença e estes progenitores têm 50% de probabilidade de transmitir o gene mutado a seu descendente, que também manifestará a doença.

A HF heterozigota (quando há apenas um gene mutado herdado do pai ou da mãe) tem a prevalência mais alta de defeitos genéticos causadores de mortalidade prematura.

A base genética desta doença é o mau funcionamento do receptor das lipoproteínas de baixa densidade (LDL = low density lipoproteins), que foi primeiramente identificada por Goldstein e Brown em seu trabalho vencedor de um Prêmio Nobel. Posteriormente, foram identificados mecanismos adicionais responsáveis pela gênese da HF.

A HF conduz a uma elevação das concentrações sanguíneas das LDLs, e os níveis em adultos heterozigotos não tratados são superiores a 190 mg/dl e, em crianças e adolescentes não tratados, são geralmente superiores a 160 mg/dl.

A longa exposição às concentrações plasmáticas elevadas do colesterol LDL começa no útero, levando os portadores heterozigotos a ter doença prematura das artérias coronárias na idade adulta média e, nos homozigotos (quando há dois genes mutados, um do pai e outro da mãe), em doença das artérias coronárias na infância, ou na idade adulta jovem.

Esta agenda também aborda diversos aspectos da HF, como as perspectivas atuais dos pacientes portadores de HF, aspectos relacionados à patogênese (origens da doença) e à genética, a história natural dos pacientes heterozigotos e dos homozigotos e a sua relação com o desenvolvimento de novos métodos de diagnóstico por imagem, na avaliação da aterosclerose subclínica, os atuais métodos de diagnóstico e as suas limitações, o aconselhamento genético e o tratamento, que vamos comentar a seguir.

Tratamento

O tratamento da HF é baseado nos níveis plasmáticos do colesterol LDL e não em anomalias genéticas e em outras características clínicas. A limitação das estratégias atuais do tratamento da HF em portadores heterozigotos é a falta de verdadeiros estudos clínicos de longo prazo, relacionando eventos e desfechos clínicos. O tratamento dos adultos é baseado em estudos clínicos de pacientes não portadores de HF e os ensaios clínicos pediátricos têm uma duração máxima de 2 anos.

As estatinas

O seguimento de longo prazo de adolescentes que receberam estatinas sugere excelente segurança e taxas de incidência de eventos muito mais baixas que as dos pais afetados pela doença. A comparação da incidência de eventos entre as eras pré e pós estatinas demonstra taxas mais baixas nos portadores de HF na era das estatinas. Entretanto, perguntas relacionadas ao longo prazo sobre os efeitos colaterais do tratamento, para poder melhor guia-lo, ainda precisam ser respondidas.

As orientações do atual consenso, tanto para portadores de HF como para a população geral, recomendam tratamento medicamentoso agressivo dos indivíduos afetados, começando entre 8 e 10 anos de idade.

A pravastatina é aprovada para uso a partir dos 8 anos de idade, enquanto que outras estatinas são aprovadas para uso a partir dos 10 anos de idade. Nas mulheres, as estatinas são contraindicadas durante a gravidez. As estatinas mais importantes aprovadas para uso no Brasil são a sinvastatina, a pravastatina, a atorvastatina, a lovastatina, a rosuvastatina e a fluvastatina.

Recomendações dietéticas

As recomendações dietéticas são válidas e devem ser seguidas, mas, sozinhas não são suficientes para atingir os níveis desejados do colesterol LDL. Na maioria dos portadores de HF, estes níveis são difíceis de serem atingidos com os tratamentos atualmente disponíveis.

A ezetimiba

A ezetimiba foi o primeiro inibidor seletivo de absorção intestinal do colesterol descoberto. A ezetimiba administrada em associação com uma estatina é indicada para a redução dos níveis elevados do colesterol total e do colesterol LDL em pacientes portadores de HF heterozigótica e homozigótica. Os pacientes também poderão receber outros tratamentos adjuvantes.

Os sequestrantes de ácidos biliares

Outra classe de agentes redutores do colesterol LDL são os sequestrantes de ácidos biliares e, entre eles, destacamos o colesevelam e a colestiramina (apenas este último disponível no Brasil), que, segundo os autores, devem ser preferidos em relação à niacina.

A niacina

A niacina é efetiva nas formas graves de HF, porém, pode se acompanhar de efeitos colaterais gastrointestinais, como sensação de “flushing”, que pode ser atenuado com sua utilização noturna, associada ao ácido acetilsalicílico.

Os fibratos

Finalmente, resta mencionar os fibratos, que são medicamentos cuja ação ocorre predominantemente sobre os triglicerídeos, mas que podem também ser utilizados na HF, quando houver hipertrigliceridemia associada a colesterol HDL baixo.

Avaliação dos resultados

De acordo com as mencionadas orientações, a resposta ao tratamento deve ser avaliada a cada 1 a 3 meses após o início e subsequentemente.

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Se você tiver colesterol LDL acima de 210 mg/dl e membros em sua família com infarto em idade inferior a 45 anos, entre em contato com o InCor pelo e-mail hipercolbrasil@incor.usp.br enviando como anexo uma cópia ou foto do seu exame de colesterol junto com um número de contato telefônico. A Equipe do Hipercol Brasil entrará em contato com você!

Continue visitando o nosso site para aprender mais sobre a HF. Leve esta notícia ao seu médico. Espalhe que a HF é tratável, quanto mais cedo diagnosticado melhores são os resultados. A HF é familiar, passa de geração em geração, portanto todos precisam ser diagnosticados.

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